sexta-feira, 4 de março de 2011

O caso cubano: O comunismo na América Latina

Cuba é o único estado que resta na América Latina, o único estado comunista hispânico e o único do Terceiro Mundo fora da Ásia que edificou e manteve um sistema comunista. No entanto a revolução não foi feita pelo partido comunista como normalmente se verificou. Pelo contrário, o Partido Comunista Cubano, durante muito tempo criticou as tácticas de guerrilha praticadas pelo líder da revolução, Fidel Castro, e os seus apoiantes. Contrastando com outros estados em que vigoravam o comunismo temos ainda o facto de que houve uma evolução ideológica do líder, não por influência soviética, que era o mais comum, mas sim pelo confronto com novos desafios de gestão do poder estatal, assim, castro vai se virar para o único exemplo de governo não – capitalista, oferecido nesta altura pelo bloco comunista.
Nos estados comunistas que se ergueram durante este período, apenas dois tinham tido um passado democrático, Cuba e a Checoslováquia.
Cuba desde a sua independência tinha sido um estado democrático, contudo, contrariamente ao caso Checo, a qualidade da democracia cubana era muito baixa e a corrupção era um constante. 
Aquando da subida de Fidel ao poder e das nacionalizações, empresários como Meyer Lansky perderam mais de 100 milhões de dólares, quando os seus hotéis, clubes, casinos e bordéis foram confiscados.
Os Estados Unidos tinham auxiliado Cuba a livrar-se do domínio Espanhol, mas na verdade apenas substituí a potência colonizadora por outra, a americana.
O antiamericanismo era mais forte em Cuba do que em qualquer outro lugar na América. Todos os líderes Cubanos invocaram a memória do herói da independência cubana, José Martí, contudo nenhum foi mais convincente do que Fidel Castro. Este continuou a citá-lo mesmo depois da sua conversão ao comunismo, até com mais fervor do que citava Marx ou Lenine. Os anticastristas, também admiravam o revolucionário e até a rádio clandestina se chamava «Rádio Martí».
A luta de Castro
Fulgência Batista aclama a sua tomada de poder uma revolução, no entanto o seu golpe militar encenado apenas vai aumentar a corrupção já existente no regime cubano.
Um ano depois, Castro vai tentar pela primeira vez derrubar o regime, numa altura em que ainda não era marxista nem leninista, mas a ideia de revolução social já estava presente, com a redistribuição do património dos mais ricos, mas estava longe de ser comunista.
Este primeiro golpe contava com cerca de 120 homens e duas mulheres, enquanto no outro lado, as forças do governo contavam com cerca de 700 homens. O ataque surpresa planeado por Castro falhou devido a uma patrulha inimiga. Os revoltosos foram capturados e os que não morreram no ataque, foram torturados e mortos. Castro, em parte devido a decência do oficial que o capturou, sobreviveu, foi preso e condenado a 26 anos de prisão. Pôde levar a cabo a sua própria defesa não tendo qualquer efeito na sentença que já estava predeterminada.
Contudo, Castro terminou o seu discurso, que durou várias horas, com as célebres palavras: “Condenem-me. Não interessa. A história irá absolver-me!”. Este período foi, descrito pelo próprio como o seu período mais marxista. Neste discurso Castro ainda acusou Fulgêncio Batista abertamente: “É compreensível que homens honestos estejam mortos, ou na prisão, numa República em que o Presidente é um criminoso e um ladrão”.
Na verdade, Castro cumpriu apenas um ano e sete meses de prisão, tendo sido libertado em Maio de 1955, devido ao arcebispo Pérez Serantes ter convencido os dirigentes cubanos que Castro e os seus revoltosos não constituíam uma ameaça. Apenas dois meses após a sua libertação Castro funda um partido político, o Movimento 26 de Julho, foi então que partiu para o México para se encontrar com o seu irmão, Raúl Castro. Foi aí que conheceu um médico revolucionário proveniente da Argentina, Ernesto Guevara, mais conhecido por «Che».
Sobre o primeiro encontro Fidel escreveu: “É um homem jovem inteligente, seguro de si próprio e extraordinariamente audaz. Demo-nos bem logo à partida”. Mais tarde, Castro observaria que naquela altura “o desenvolvimento revolucionário de Che era mais avançado do que o meu, ideologicamente falando”.
No seu regresso a Cuba, Castro vai sobreviver contra todas as expectativas, depois do barco antigo, feito para transportar 25 pessoas, levar 82 guerrilheiros, armas e munições e quase se afundar, chegando apenas uma semana depois ao seu destino.
O grupo de revolucionários refugiou-se nas colinas de Sierra Maestra, onde durante dois anos travaram combates de guerrilha contra o regime de Batista.
Os revolucionários liderados por Fidel Castro contavam com o apoio de muitos camponeses, contudo, dizer que era um “exército de camponeses” faz parte da mitologia da revolução, visto que grande parte dos guerrilheiros era de classe média.
Em Julho de 1958, Castro é oficialmente declarado líder da revolução depois do «Manifesto da Frente de Oposição Civil-Revolucionário» ter sido criado pelos partidos da oposição e grupos anti-Batista. A principal ausência foi a do partido comunista, nesta altura liderado por Carlos Rafael Rodríguez, que considerou ter sido perdida uma boa oportunidade. Este motivo levou com que fosse a Sierra Maestra para prestar homenagem a Fidel Castro. A indefinição política de Castro, que lhe garantiu o apoio de vários sectores da oposição, estava agora a diminuir com a sua aproximação ideológica à de seu irmão, Raúl e de Che Guevara.
A tomada de poder por Fidel Castro
No final de 1958 a força revolucionária contava com três mil pessoas, a resistência era quase inexistente e o caminho para Havana estava livre.
Foi então, no dia 1 de Janeiro de 1959, Fulgêncio Batista partiu com a sua família e alguns dos seus apoiantes para a República Dominicana, levando consigo todo o outro cubano. Batista deixou o general Cantillo no poder, que viria tenta atraiçoar a revolução, contudo a base de apoio de Fidel extensa, tendo sido preso.
A 8 de Janeiro, Castro discursa no palácio presidencial oficializando a vitória dos revolucionários, contudo Castro ainda não era comunista e viu-se com um governo nas mãos «sem um verdadeiro partido, um verdadeiro exército, ou um verdadeiro programa». Era preciso a experiência organizacional dos comunistas.
Em 1961, por fim, vai-se declarar como marxista e leninista, no mesmo ano que une o seu movimento com o partido Comunista.
Dos seis dirigentes que a Organização Revolucionária Internacional, coligação de revolucionários de Castro e do partido comunista, foram expulsos quatro. Mantendo apenas dois membros fieis a Fidel.
Ainda neste ano se deu a invasão da Baía dos Porcos.
Mil duzentos e noventa e sete exilados anti-castristas, apoiados pelos Estados Unidos e os seus Serviços Secretos, tentaram invadir Cuba e assassinar o líder Cubano. Contudo, em apenas em 72 horas, o movimento anti-revolucionário foi derrotado e a maior parte capturada. A “Operação Magusto” tinha falhado.
A crise dos mísseis de Cuba
Após, em 1962, ter sido ridicularizada a ideia de instalar mísseis soviéticos em Cuba, por Nikita Khrushchev, o plano vai mesmo avante.
Castro, inicialmente, mostrou-se relutante pelo facto de recusar a ideia de Cuba ser apenas uma base soviética. Contudo, a instalação de mísseis nucleares em Cuba, para além do potencial apresentado como arma ofensiva contra os EUA, funcionava como arma de dissuasão de um ataque americano.
O Comité Central Soviético aceitou a proposta de Khrushchev para a instalação dos mísseis, registando-se alguma oposição no seio do governo soviético.
Em Washington, John F. Kennedy rejeita as propostas de bombardear os asilos ou navios soviéticos. A resposta americana resultou no bloqueio naval, impedindo que mais mísseis fossem entregues garantindo mais tempo para as negociações com Moscovo.
Os Estados Unidos concordaram que não voltariam a atacar Cuba, mas contrariamente com o que aconteceu na Baía dos Porcos, em que os invasores depois de capturados foram devolvidos aos EUA em troca de medicamentos e equipamento agrícola, Castro foi deixado de fora das negociações.
Para além da promessa de não invadir Cuba, os EUA retiraram os mísseis da Turquia. Khrushchev saiu deste conflito fragilizado aos olhos do Bloco Comunista.
Ainda que este episódio, considerado por alguns como estando “à beira da Terceira Guerra Mundial”, serviu de lição e nunca mais os dois blocos estiveram tão próximos do conflito directo.
Em 1965, depois de uma visita de Castro a Moscovo, Cuba é reconhecida como um estado como comunista. Apesar de não estar, oficialmente, no COMECON ou Pacto de Varsóvia, a verdade e que beneficiou tanto de ajuda económica como militar por parte dos soviéticos.
Um estado Comunista na América Latina
Cuba, apesar do embargo dos EUA, e de alguma dependência da União Soviética, a nível económico, em termos ideológicos foi muito independente. Este facto, juntamente com o grande apoio da população, contribuiu para a manutenção do comunismo em Cuba, mesmo depois da desintegração do seu maior aliado, a União Soviética.
A base de apoio manteve-se grande, em parte, devido à legitimidade do regime comparativamente à democracia corrupta anterior.
Outro facto, também importante, foi o de os líderes cubanos iniciais se manterem vivos durante muito tempo, o que contribui para uma familiaridade com o regime.
Ajuda Revolucionária
Castro, contrariamente a que os americanos acreditam, não agiu sob influência exterior na ajuda a outras revoluções mas sim por sua iniciativa. Atingindo um número de 52 mil soldados em alguns países Africanos.
A escolha de países em África deve-se a muitos deles se encontrarem em anarquia, algo que não acontecia na América Latina, em que os estados ainda tinham um governo legítimo.
O facto de terem sido enviados vários contingentes constituídos por negros, em grande número no estado cubano, contribui para uma maior aceitação por parte das populações locais.
O prestígio de Cuba aumentou com o envio de médicos cubanos juntamente com as tropas.
O sistema de saúde e educação cubanos
Num país que os produtos eram escassos era preciso prevenir as doenças. Castro utilizou assim uma boa parte dos recursos limitados na saúde.
Cuba, embora os Estados Unidos tenham maior fortuna, conseguiram atingir os mesmos valores na taxa de mortalidade e esperança média de vida. Cuba contava anda com o maior número de médicos por habitante, 591 por cada mil, contrariando os 256 nos EUA e 198 no México.
A nível da educação, Cuba antes da revolução contava com 75% da população que não sabia ler nem escrever. A instrução tornava-se fundamental. As medidas cubanas foram um sucesso, irradiando por completo a alfabetização.
Contudo a nível cultural, Cuba não se encontrava desenvolvida. Os principais escritores tinham emigrado, para além de que o desenvolvimento das ciências sociais e dos seus intelectuais eram uma ameaça à ideologia do partido. Desse modo, Cuba vai apoiar os cientistas e técnicos, apostando na formação clínica.
Os Fracassos Cubanos
A saúde e educação eram gratuitas, no entanto, registavam-se desigualdades, em especial nesta última.
Como já referido anteriormente, Cuba tinha um grande número de população negra, que se encontrava desproporcionalmente representada em vários sectores.
Contrariamente ao que se pode inicialmente pensar, este facto não se deveu ao racismo, pois, o líder cubano sempre teve um papel activo na luta contra a discriminação.
Outro problema na educação continuava a ser a desigualdade entre as famílias que os pais tinham sido instruídos e os que não tinham.
Outro fracasso é o facto de não existir pluralismo político e liberdade intelectual. A repressão política, foi no entanto, menor que nos outros países comunistas. A força policial cubana para a defesa do estado, semelhante ao KGB soviético, no entanto era complementada pelos grupos de bairros chamados Comités para a Defesa da Revolução.

As acções americanas tornaram-se aliadas do regime cubano, o embargo a Cuba, que isolou a ilha durante muito tempo, contribuiu para uma sociedade fechada em que as pessoas não foram influenciadas pelos turistas americanas que tanto influenciaram outras sociedades, reforçando assim o patriotismo e a continuação do comunismo no país.
Revolucionários cubanos

Fidel Castro, Raúl Castro e Che Guevara

2 comentários:

  1. 596 MÉDICOS POR MIL HABITANTES?
    MAIS DA METADE DA POPULAÇÃO É DE MÉDICOS?
    Como todo médico tem familia que atenderá, possivelmente de graça, quem serão os clientes dos médicos?
    NÃO EXAGEREM!!!!

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  2. Cuba, o mais miseravel país da América Latina, junto com o Haiti!

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