sexta-feira, 18 de março de 2011

KGB

KGB (Comité de Segurança do Estado) era o nome da principal agência de informação e segurança (serviços secretos) da antiga União Soviética, que desempenhava em simultâneo as funções de polícia secreta do governo soviético, entre 13 de Março de 1954 e 6 de Novembro de 1991. O domínio de atuação do KGB, durante a Guerra Fria, pode ser comparado, nos Estados Unidos, à combinação dos serviços secretos da CIA e da segurança interna do FBI. Com o fim da URSS, o maior sucessor do KGB é o Serviço Federal de Segurança da Federação Russa (FSB). Também o nome oficial do serviço de inteligência da Bielorrússia, a Agência de Segurança do Estado, permanece como KGB.
A KGB surgiu após a Segunda Guerra Mundial, no período da guerra fria, apesar de suas origens internas remontarem a 1917, quando Félix Djerjinsky fundou o grupo paramilitar cognominado Tcheka.
Era uma polícia secreta e política que não tinha equivalente no mundo, porque se situava em um nível completamente diferente dos outros serviços especiais, constituía igualmente um ministério. Dispunha de trezentos mil soldados da Guarda de Fronteiras, equipados com blindados, caças e barcos sendo uma força independente do exército, força aérea e marinha. A organização compreendia 5 direcções-gerais.
A primeira direcção, a mais importante, incluía a subdirecção dos ilegais (agentes que viviam no estrangeiro sob uma falsa identidade), a subdirecção cientifica e técnica, um serviço de contra-espionagem, serviço de acção e um serviço dos negócios sujos (assassinatos, atentados, sequestros, bombas). A segunda e terceira direcções-gerais estão encarregadas da informação, vigilância e da repressão interna, a quarta são os guardas da fronteira e a quinta, das escolas, que são muitas e variadas.
O escudo e a espada (defesa e ataque) do KGB

China Comunista


A revolução comunista na China foi um processo que começou em 1927 e terminou em 1949. No transcurso desses 22 anos, a revolução atravessou quatro fases distintas.
A primeira fase se caracterizou pela eclosão de uma guerra civil envolvendo os nacionalistas e os comunistas, que combateram em algumas cidades do sul do país. O exército nacionalista foi liderado pelo general Chiang Kai-shek e nos primeiros três anos de guerra conseguiu derrotar e expulsar das grandes cidades os comunistas e seus seguidores.
A severa derrota dos comunistas nas zonas urbanas, principalmente nas cidades de Shangai, Gengzhou e Changsha, desencadeou uma autocrítica dentro do Partido Comunista Chinês (PCCh), levando Mao Tsé-Tung à liderança partidária. Mao Tsé-Tung estabeleceu uma nova estratégia revolucionária, voltando-se para as zonas rurais em busca do apoio das massas camponesas.
A Longa Marcha
Dos anos que vão de 1930 a 1937 a revolução atravessa a segunda fase. O conflito se generalizou por todo o território chinês, levando milhões de homens a pegarem em armas. No início, porém, a estratégia maoísta de criação dos chamados sovietes rurais (cujo desdobramento esperado era a organização das guerrilhas camponesas, que iriam deflagrar a guerra revolucionária) se deparou com alguns obstáculos, entre eles a dificuldade de vencer o poderoso exército nacionalista que perseguiu os comunistas pelo interior do país.
Habilmente, Mao Tsé-Tung conduziu os comunistas por quase 10 mil quilómetros pelo interior do país, no que ficou conhecida como a célebre Longa Marcha (1934-1935), até chegarem à província de Shensi, onde se instalaram e ali permaneceram sob a coordenação e protecção do soviete de Yenan.
Em 1937, o Japão invade militarmente a China e o exército nacionalista passa a combater os japoneses. Concentrados na província de Shensi, os comunistas fortalecem suas posições com a organização do Exército Popular de Libertação, formado maioritariamente por milhões de camponeses explorados e empobrecidos, que aderiram em massa ao movimento revolucionário.

Inimigo comum: os japoneses
Mesmo assim, a vanguarda revolucionária comunista decidiu unir forças com o exército nacionalista na luta contra o inimigo comum da China: os japoneses. Tem início, então, a terceira fase do movimento revolucionário, denominada de coalizão das forças comunistas e nacionalistas, que durou de 1938 a 1945.
Depois de oito anos de intensos combates, os japoneses são finalmente derrotados na China e também pelos aliados na Segunda Guerra Mundial. Os comunistas saem fortalecidos na guerra de libertação nacional e retomam a guerra civil contra os nacionalistas, dando início à quarta e última fase do movimento revolucionário.
Finalmente, em 1949, o Exército Popular de Libertação derrota os nacionalistas, que se refugiam na ilha de Taiwan e formam um governo ditatorial, separando-se da China continental como um Estado independente. Vitoriosos, os comunistas fundam a República Popular da China.
Ao assumirem o poder, os comunistas tinham pela frente enormes tarefas diante de um imenso país, muito populoso e com muitas riquezas naturais, mas atrasado em vários aspectos: tecnológico, científico, educacional, social e económico. A China pós-revolucionária era uma nação desorganizada, falida e em ruínas.

Construção de uma nova China
Os problemas mais urgentes eram a inflação galopante e a paralisação da produção industrial e rural. Depois de muitas décadas de penúria e humilhação, o povo chinês ansiava por mudanças que melhorassem sua condição de vida. Gradualmente, a indústria e o comércio foram nacionalizados. As finanças foram equilibradas e a reforma agrária foi realizada.
Os hábitos e costumes tradicionais do povo foram abruptamente alterados. O Estado declarou a educação popular uma obrigatoriedade. A prostituição e o uso de drogas, antes endémicos, passaram a ser considerados crimes. As mulheres, por outro lado, se libertaram do concubinato (que as mantinham numa relação de subordinação ao marido).
Os revolucionários desfecharam uma feroz perseguição a todas as classes de indivíduos que tinham ligações com os nacionalistas. Funcionários estatais, administradores de empresas, pequenos e médios proprietários urbanos e rurais, membros de associações religiosas e tradicionais, entre outros segmentos sociais, foram declarados "inimigos do povo".
A população foi oficialmente estimulada a participar, engajando-se na denúncia, julgamento e condenação dos acusados. Todo esse processo foi marcado pelo uso de violenta repressão contra os opositores do socialismo. Como exemplo dessa política oficial, estima-se que cerca de dois milhões de indivíduos pertencentes à classe de proprietários rurais perderam a vida porque resistiram à socialização e à colectivização das terras.
Mao Tse-tung

Bloqueio de Berlim

O Bloqueio de Berlim (de 24 de junho de 1948 a 11 de maio de 1949) tornou-se uma das maiores crises da Guerra Fria, desencadeada quando a União Soviética interrompeu o acesso ferroviário e rodoviário à cidade de Berlim Ocidental. A crise arrefeceu ao ficar claro que a URSS não agiria para impedir a ponte aérea de alimentos e outros gêneros organizada e operada pelos Estados Unidos, Reino Unido e França.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 8 de maio de 1945, tropas soviéticas e ocidentais (americanas, britânicas e francesas) espalharam-se pela Europa, aquelas a leste, estas a oeste, dividindo o continente ao meio. Na Conferência de Potsdam, os aliados acordaram dividir a Alemanha derrotada e berlim em quatro zonas de ocupação (conforme os princípios previamente definidos na Conferência de Ialta). Como Berlim encontrava-se bem no centro da zona de ocupação soviética da Alemanha (que viria a tornar-se a Alemanha Oriental), as zonas americana, britânica e francesa em Berlim encontravam-se cercadas por território ocupado pelo Exército Vermelho. Esta situação viria a ser um ponto focal das tensões que levariam à dissolução da aliança sovieto-ocidental formada na Segunda Guerra.
A URSS encerrou o bloqueio à 00h01 de 12 de maio de 1949. Contudo, a ponte aérea continuou a funcionar até 30 de setembro, pois os quatro países ocidentais preferiram criar um estoque de suprimentos em Berlim Ocidental para o caso de novo bloqueio soviético.
Ajuda aérea dos países ocidentais a Berlim

COMECON e o Pacto de Varsóvia

Qualquer acção por parte de um bloco durante o período da guerra fria teve uma reacção pelo bloco oposto, e como tal a criação do Plano Marshall e da Nato não foi excepção.
Surgia a necessidade de unir os países de leste a nível político e económico, assim em 1949 é fundado o COMECON – conselho de ajuda económica Mútua - pela União Soviética, Bulgária, Roménia, Checoslováquia, Hungria e Polónia. Sendo que os três últimos continuavam interessados nos planos norte americanos. Avistava-se uma abertura dos mercados e uma forte influência do Ocidente nestes países, algo impensável para Estaline, assim era necessário a criação de uma organização para manter estes países sobre o domínio soviético.
Este acordo tinha como objectivo estipular as trocas comerciais de produtos e matérias-primas, entre os estados-membros, assim como ajuda técnica e financeira.
As principais instituições financeiras do Comecon estavam sediadas em Moscovo: o Banco Internacional de Cooperação Económica e o Banco Internacional de Investimento.
O primeiro administra as contas bilaterais de compensação de pagamentos e os créditos a curto prazo para regularizar desequilíbrios entre os Estados-Membros. Por sua vez, o segundo assegura o financiamento multilateral dos investimentos e gere um fundo especial de ajuda económica aos países em desenvolvimento.
A unidade usada pelos estados-membros é chamada de “rublo transferível”, uma moeda de câmbio, fixada por acordo relativamente às moedas nacionais dos membros.
A entrada de novos estados-membros começou em 1950, com a entrada da República democrática Alemã, mais tarde, em 1962, a Mongólia e dez anos mais tarde Cuba, por fim o Vietname, em 1978. Por esta altura englobava grande parte dos regimes comunistas no Mundo.
Perestroika e o Fim do Comecon
A Perestroika – reforma de Mikhail Gorbachev – pretendia reforçar o poder do Comecon, contudo, Gorbachev comprometeu-se em muitas frentes, sobrecarregando assim a economia Soviética.
As medidas deste regime foram viradas para a abertura de mercado assim, em 1988, foi permitido aos países membros negociar com a Comunidade Europeia. Com a doutrina Sinatra foi permitido a cada país fazer as suas próprias decisões, esta doutrina de Gorbachev ditava o fim do Comecon.
Em 1991, os países do bloco de Leste diminuíram drasticamente, por fim a 28 de Outubro, em Budapeste, é declarado o desmantelamento do Comecon em 90 dias.


Pacto de Varsóvia
O Pacto de Varsóvia foi uma aliança formada a 14 de Maio de 1955 pelos países de Leste Europeu e URSS, estabelecendo um compromisso de ajuda mútua em caso de agressão militar.
Alemanha Oriental, Bulgária, Hungria, Polónia, Checoslováquia, Roménia e Albânia, ao assinar o tratado, estavam agora sobre forte influência Soviética, opondo-se ao tratado do bloco antagónico, a NATO. A Jugoslávia não participou na aliança assinada na capital polaca, contudo manteve forte influência.
A Coreia do Norte foi um dos poucos estados não-europeus a participar. Manteve-se no entanto apenas como observador, assim como aconteceu com a China até ao rompimento de relações com Moscovo, em 1968.
O Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua, conhecido como Pacto de Varsóvia, era liderado por uma comissão política, esta era composta pelos chefes de governo dos países-membros. Contava ainda com a frequente presença de ministros da Defesa, Chefes das forças armadas e membros dos Estados-Maiores. Esta comissão política era acompanhada por uma comissão militar consultiva, do Conselho de Secretários de Defesa e Estado Maior. Teve como primeiro comandante Ivan Stepanovich Koniev.
Esta comissão decidiu intervir em alguns conflitos militares bem como algumas revoltas que surgiram nos países membros.
Como no caso do Afeganistão, em que 6.200.000 soldados, 65 mil tanques, dois mil navios e 15 mil aviões estavam sob controlo da Aliança.
Em Outubro de 1956, o exército vermelho foi mobilizado para a Hungria com o intuito de acabar uma revolta anti-comunista. O mesmo se verificou mais tarde em 1968, durante a Primavera de Praga, quando invadiram a Checoslováquia, pois as reformas deste país estavam a destruir o socialismo Checo.
Segundo a doutrina de Brejnev – política militar externa da URSS- “quando as forças que são hostis ao socialismo tentarem alterar o desenvolvimento de algum país socialista para o capitalismo, tornam-se não só um problema do país em causa, mas um problema comum que afecta todos os países socialistas”. Considera-se que o Pacto de Varsóvia tenha sido, na prática, mais um instrumento de controlo soviético.
 Fim do Pacto de Varsóvia
Sem nunca se terem enfrentado num conflito armado, a oposição entre OTAN e Pacto de Varsóvia durou mais de 35 anos.
Este último começou a perder popularidade com a doutrina do líder soviética, Mikhail Gorbachev, que declarava que a doutrina de intervenção militar terminaria e os países membros poderiam escolher o pacto antagónico sem qualquer risco de invasão.
Aos poucos foram abandonando a aliança, até que a 1 de Julho de 1991 foi oficializado o fim do Pacto.
Os soldados Soviéticos estacionados por todo o leste europeu regressaram à sua pátria. Ainda que a Rússia tenha sido compensada financeiramente pela retirada das bases militares, via-se agora com um problema, o desemprego dos seus militares.
Em Março de 199 os antigos membros do Pacto de Varsóvia iniciaram a sua adesão à OTAN, sendo completada em 2004, quando os últimos aderiram.
Países do Pacto de Varsóvia

O poder nuclear

A descoberta da fusão nuclear remonta à Alemanha Nazi, a mais avançada em física na época. Os cientistas, Otto Hahn (1879-1968), prémio novel da química em 1944, Lise Meitner (1878-1968), Frite Strassman (1902-1980) e Otto Robert Frisch (1904-1979), conseguiram fundir urânio (U235) com outros átomos, libertando grandes quantidades de energia. Essa libertação de energia, se controlada, gera calor e pode ser utilizada para gerar energia eléctrica. Por sua vez, uma reacção descontrolada gera uma explosão.
Os cientistas da Alemanha, liderados por Werner Karl Heisenberg (1901-1996), conseguiram estabelecer os princípios teóricos para a construção da bomba nuclear.
É de destacar que parte destes cientistas eram considerados pacifistas, e não aceitavam necessariamente a ideologia nazi. Os cientistas foram eles mesmos vítimas do anti-semitismo presente no regime alemão, sendo perseguidos, principalmente, por motivos políticos ou raciais.
Hitler, mesmo sem dispor da bomba atómica, foi como se tivesse pressionado o gatilho nuclear.
Em 1939, o físico Albert Einstein (1879-1955) enviou uma carta ao presidente Norte Americano, Franklin Roosevelt, a avisar do desenvolvimento da bomba atómica por parte dos alemães. É desconhecida a real intenção desta carta, sendo apenas para avisar, ou como outros afirmam, para sugerir a construção de uma bomba nuclear americana.
Independentemente da intenção de Einstein o certo é que a resposta foi rápida. É criado o projecto Manhattan, em 1941, sob a direcção de Robert Oppenheimer (1905-1967) trabalharam cerca de 200 cientistas, como Enrico Formi (1901-1954), proveniente da Itália, um dos muitos cientistas que escaparam aos regimes autoritários europeus e um dos muitos cientistas que foram galardoados com o prémio Nobel. Foi conhecido como o “arquitecto da era nuclear”.
A construção da bomba e testes nucleares
O primeiro teste foi realizado com a bomba de plutónio (conhecido como “badgat”), testada numa região desértica no Novo México, a 16 de Julho de 1945.
Construíram outras duas bombas de urânio, uma chamada “Thin Man” (alterada para “Little Boy”), numa alusão a Roosevelt, e outra chamada “Fat Man” numa alusão a Winston Churchill.
Por esta altura Benito Mussolini havia sido fuzilado, a 28 de Abril de 1945, e dois dias depois Hitler tinha cometido suicídio, quando as tropas russas já controlavam parte da cidade de Berlim. A 7 de Maio, o exército alemão rendia-se. A guerra na Europa, por fim, estava terminada. No pacífico avistava-se a derrota japonesa.
Apesar do apelo de vários cientistas para que seja enviado um ultimato ao Japão, o presidente decide que o ataque surpresa com armas nucleares iria mesmo acontecer.
É então que, apenas três semanas após o primeiro teste, o bombardeiro B29, apelidado Enola Gay lançou a bomba “little Boy” sobre a cidade de Hiroshima, a 6 de Agosto. Três dias depois, “fat man” é lançada sobre Nagasaki.
Foram contabilizados cerca de 295.956 mortes. Destas apenas 25.375, em Hiroshima, e 13.298, em Nagasaki, morreram no dia da explosão.
O bombardeiro Enola Gay está exposto num museu Americano e é visto como um símbolo nacional.
Em 1952, os Estados Unidos criam a bomba de hidrogénio, 200 vezes mais poderosa que a atómica.
A bomba atómica soviética
A chefia do projecto nuclear soviético ficou entregue a Lavrenty Beria (1899-1953), um dos responsáveis pelo «Grande Expurgo» que matou quase 1.5 milhões de soviéticos.
O projecto nuclear começou nos arredores de Moscovo mas foi movido para Sarov, que desapareceu do mapa durante 45 anos, estando cercada permanentemente por forças militares.
Em 1949, no Cazaquistão, é testada a primeira bomba soviética, semelhante à lançada sobre Nagasaki. Este teste surpreendeu os Norte Americanos pelo curto espaço de tempo em que foi produzida.
Os Estados Unidos acusaram a União Soviética de roubar o segredo da bomba atómica, contudo essas acusações não são totalmente verdadeiras.
Havia, de facto, espiões a trabalhar no projecto Manhattan que obtinham informações confidenciais. O caso mais famoso foi o do casal Rosenberg, suspeitos da participação no “esquema Fuchs” (entrega de segredos nucleares aos soviéticos). A sua culpa nunca chegou a ser provada e o casal alegava que estava inocente, isso, no entanto, não impediu a sua condenação à pena de morte. Foram executados a 19 de Junho de 1953.
Contudo, nem os cientistas americanos tinham acesso a todo o projecto, assim as informações passadas pelos espiões eram apenas fragmentos. Beria, de forma a apressar a pesquisa e a testar as informações obtidas, vai dividir os seus cientistas em equipas mais pequenas, todas trabalhando no mesmo problema, comparando os resultados obtidos entre si, bem como com os americanos.
Os soviéticos testavam a bomba de hidrogénio em 1955, depois da sua descoberta em 1953.
Estavam, por fim, equivalentes os recursos de ambos os blocos.
Bombas nucleares como equilíbrio do terror
Durante o período da Guerra Fria, o poder nuclear foi usado como arma de defesa e simultaneamente como arma de ataque, contribuindo para que ambas as potências evitassem o confronto directo. Foi ainda usado como arma política e esteve na origem de vários conflitos que quase originavam esse confronto que a todo o custo se evitava, como a Crise dos Misseis de Cuba.
Bomba de Hiroshima - "Little Boy"

 



Plataforma de lançamento de mísseis nucleares


sexta-feira, 4 de março de 2011

O caso cubano: O comunismo na América Latina

Cuba é o único estado que resta na América Latina, o único estado comunista hispânico e o único do Terceiro Mundo fora da Ásia que edificou e manteve um sistema comunista. No entanto a revolução não foi feita pelo partido comunista como normalmente se verificou. Pelo contrário, o Partido Comunista Cubano, durante muito tempo criticou as tácticas de guerrilha praticadas pelo líder da revolução, Fidel Castro, e os seus apoiantes. Contrastando com outros estados em que vigoravam o comunismo temos ainda o facto de que houve uma evolução ideológica do líder, não por influência soviética, que era o mais comum, mas sim pelo confronto com novos desafios de gestão do poder estatal, assim, castro vai se virar para o único exemplo de governo não – capitalista, oferecido nesta altura pelo bloco comunista.
Nos estados comunistas que se ergueram durante este período, apenas dois tinham tido um passado democrático, Cuba e a Checoslováquia.
Cuba desde a sua independência tinha sido um estado democrático, contudo, contrariamente ao caso Checo, a qualidade da democracia cubana era muito baixa e a corrupção era um constante. 
Aquando da subida de Fidel ao poder e das nacionalizações, empresários como Meyer Lansky perderam mais de 100 milhões de dólares, quando os seus hotéis, clubes, casinos e bordéis foram confiscados.
Os Estados Unidos tinham auxiliado Cuba a livrar-se do domínio Espanhol, mas na verdade apenas substituí a potência colonizadora por outra, a americana.
O antiamericanismo era mais forte em Cuba do que em qualquer outro lugar na América. Todos os líderes Cubanos invocaram a memória do herói da independência cubana, José Martí, contudo nenhum foi mais convincente do que Fidel Castro. Este continuou a citá-lo mesmo depois da sua conversão ao comunismo, até com mais fervor do que citava Marx ou Lenine. Os anticastristas, também admiravam o revolucionário e até a rádio clandestina se chamava «Rádio Martí».
A luta de Castro
Fulgência Batista aclama a sua tomada de poder uma revolução, no entanto o seu golpe militar encenado apenas vai aumentar a corrupção já existente no regime cubano.
Um ano depois, Castro vai tentar pela primeira vez derrubar o regime, numa altura em que ainda não era marxista nem leninista, mas a ideia de revolução social já estava presente, com a redistribuição do património dos mais ricos, mas estava longe de ser comunista.
Este primeiro golpe contava com cerca de 120 homens e duas mulheres, enquanto no outro lado, as forças do governo contavam com cerca de 700 homens. O ataque surpresa planeado por Castro falhou devido a uma patrulha inimiga. Os revoltosos foram capturados e os que não morreram no ataque, foram torturados e mortos. Castro, em parte devido a decência do oficial que o capturou, sobreviveu, foi preso e condenado a 26 anos de prisão. Pôde levar a cabo a sua própria defesa não tendo qualquer efeito na sentença que já estava predeterminada.
Contudo, Castro terminou o seu discurso, que durou várias horas, com as célebres palavras: “Condenem-me. Não interessa. A história irá absolver-me!”. Este período foi, descrito pelo próprio como o seu período mais marxista. Neste discurso Castro ainda acusou Fulgêncio Batista abertamente: “É compreensível que homens honestos estejam mortos, ou na prisão, numa República em que o Presidente é um criminoso e um ladrão”.
Na verdade, Castro cumpriu apenas um ano e sete meses de prisão, tendo sido libertado em Maio de 1955, devido ao arcebispo Pérez Serantes ter convencido os dirigentes cubanos que Castro e os seus revoltosos não constituíam uma ameaça. Apenas dois meses após a sua libertação Castro funda um partido político, o Movimento 26 de Julho, foi então que partiu para o México para se encontrar com o seu irmão, Raúl Castro. Foi aí que conheceu um médico revolucionário proveniente da Argentina, Ernesto Guevara, mais conhecido por «Che».
Sobre o primeiro encontro Fidel escreveu: “É um homem jovem inteligente, seguro de si próprio e extraordinariamente audaz. Demo-nos bem logo à partida”. Mais tarde, Castro observaria que naquela altura “o desenvolvimento revolucionário de Che era mais avançado do que o meu, ideologicamente falando”.
No seu regresso a Cuba, Castro vai sobreviver contra todas as expectativas, depois do barco antigo, feito para transportar 25 pessoas, levar 82 guerrilheiros, armas e munições e quase se afundar, chegando apenas uma semana depois ao seu destino.
O grupo de revolucionários refugiou-se nas colinas de Sierra Maestra, onde durante dois anos travaram combates de guerrilha contra o regime de Batista.
Os revolucionários liderados por Fidel Castro contavam com o apoio de muitos camponeses, contudo, dizer que era um “exército de camponeses” faz parte da mitologia da revolução, visto que grande parte dos guerrilheiros era de classe média.
Em Julho de 1958, Castro é oficialmente declarado líder da revolução depois do «Manifesto da Frente de Oposição Civil-Revolucionário» ter sido criado pelos partidos da oposição e grupos anti-Batista. A principal ausência foi a do partido comunista, nesta altura liderado por Carlos Rafael Rodríguez, que considerou ter sido perdida uma boa oportunidade. Este motivo levou com que fosse a Sierra Maestra para prestar homenagem a Fidel Castro. A indefinição política de Castro, que lhe garantiu o apoio de vários sectores da oposição, estava agora a diminuir com a sua aproximação ideológica à de seu irmão, Raúl e de Che Guevara.
A tomada de poder por Fidel Castro
No final de 1958 a força revolucionária contava com três mil pessoas, a resistência era quase inexistente e o caminho para Havana estava livre.
Foi então, no dia 1 de Janeiro de 1959, Fulgêncio Batista partiu com a sua família e alguns dos seus apoiantes para a República Dominicana, levando consigo todo o outro cubano. Batista deixou o general Cantillo no poder, que viria tenta atraiçoar a revolução, contudo a base de apoio de Fidel extensa, tendo sido preso.
A 8 de Janeiro, Castro discursa no palácio presidencial oficializando a vitória dos revolucionários, contudo Castro ainda não era comunista e viu-se com um governo nas mãos «sem um verdadeiro partido, um verdadeiro exército, ou um verdadeiro programa». Era preciso a experiência organizacional dos comunistas.
Em 1961, por fim, vai-se declarar como marxista e leninista, no mesmo ano que une o seu movimento com o partido Comunista.
Dos seis dirigentes que a Organização Revolucionária Internacional, coligação de revolucionários de Castro e do partido comunista, foram expulsos quatro. Mantendo apenas dois membros fieis a Fidel.
Ainda neste ano se deu a invasão da Baía dos Porcos.
Mil duzentos e noventa e sete exilados anti-castristas, apoiados pelos Estados Unidos e os seus Serviços Secretos, tentaram invadir Cuba e assassinar o líder Cubano. Contudo, em apenas em 72 horas, o movimento anti-revolucionário foi derrotado e a maior parte capturada. A “Operação Magusto” tinha falhado.
A crise dos mísseis de Cuba
Após, em 1962, ter sido ridicularizada a ideia de instalar mísseis soviéticos em Cuba, por Nikita Khrushchev, o plano vai mesmo avante.
Castro, inicialmente, mostrou-se relutante pelo facto de recusar a ideia de Cuba ser apenas uma base soviética. Contudo, a instalação de mísseis nucleares em Cuba, para além do potencial apresentado como arma ofensiva contra os EUA, funcionava como arma de dissuasão de um ataque americano.
O Comité Central Soviético aceitou a proposta de Khrushchev para a instalação dos mísseis, registando-se alguma oposição no seio do governo soviético.
Em Washington, John F. Kennedy rejeita as propostas de bombardear os asilos ou navios soviéticos. A resposta americana resultou no bloqueio naval, impedindo que mais mísseis fossem entregues garantindo mais tempo para as negociações com Moscovo.
Os Estados Unidos concordaram que não voltariam a atacar Cuba, mas contrariamente com o que aconteceu na Baía dos Porcos, em que os invasores depois de capturados foram devolvidos aos EUA em troca de medicamentos e equipamento agrícola, Castro foi deixado de fora das negociações.
Para além da promessa de não invadir Cuba, os EUA retiraram os mísseis da Turquia. Khrushchev saiu deste conflito fragilizado aos olhos do Bloco Comunista.
Ainda que este episódio, considerado por alguns como estando “à beira da Terceira Guerra Mundial”, serviu de lição e nunca mais os dois blocos estiveram tão próximos do conflito directo.
Em 1965, depois de uma visita de Castro a Moscovo, Cuba é reconhecida como um estado como comunista. Apesar de não estar, oficialmente, no COMECON ou Pacto de Varsóvia, a verdade e que beneficiou tanto de ajuda económica como militar por parte dos soviéticos.
Um estado Comunista na América Latina
Cuba, apesar do embargo dos EUA, e de alguma dependência da União Soviética, a nível económico, em termos ideológicos foi muito independente. Este facto, juntamente com o grande apoio da população, contribuiu para a manutenção do comunismo em Cuba, mesmo depois da desintegração do seu maior aliado, a União Soviética.
A base de apoio manteve-se grande, em parte, devido à legitimidade do regime comparativamente à democracia corrupta anterior.
Outro facto, também importante, foi o de os líderes cubanos iniciais se manterem vivos durante muito tempo, o que contribui para uma familiaridade com o regime.
Ajuda Revolucionária
Castro, contrariamente a que os americanos acreditam, não agiu sob influência exterior na ajuda a outras revoluções mas sim por sua iniciativa. Atingindo um número de 52 mil soldados em alguns países Africanos.
A escolha de países em África deve-se a muitos deles se encontrarem em anarquia, algo que não acontecia na América Latina, em que os estados ainda tinham um governo legítimo.
O facto de terem sido enviados vários contingentes constituídos por negros, em grande número no estado cubano, contribui para uma maior aceitação por parte das populações locais.
O prestígio de Cuba aumentou com o envio de médicos cubanos juntamente com as tropas.
O sistema de saúde e educação cubanos
Num país que os produtos eram escassos era preciso prevenir as doenças. Castro utilizou assim uma boa parte dos recursos limitados na saúde.
Cuba, embora os Estados Unidos tenham maior fortuna, conseguiram atingir os mesmos valores na taxa de mortalidade e esperança média de vida. Cuba contava anda com o maior número de médicos por habitante, 591 por cada mil, contrariando os 256 nos EUA e 198 no México.
A nível da educação, Cuba antes da revolução contava com 75% da população que não sabia ler nem escrever. A instrução tornava-se fundamental. As medidas cubanas foram um sucesso, irradiando por completo a alfabetização.
Contudo a nível cultural, Cuba não se encontrava desenvolvida. Os principais escritores tinham emigrado, para além de que o desenvolvimento das ciências sociais e dos seus intelectuais eram uma ameaça à ideologia do partido. Desse modo, Cuba vai apoiar os cientistas e técnicos, apostando na formação clínica.
Os Fracassos Cubanos
A saúde e educação eram gratuitas, no entanto, registavam-se desigualdades, em especial nesta última.
Como já referido anteriormente, Cuba tinha um grande número de população negra, que se encontrava desproporcionalmente representada em vários sectores.
Contrariamente ao que se pode inicialmente pensar, este facto não se deveu ao racismo, pois, o líder cubano sempre teve um papel activo na luta contra a discriminação.
Outro problema na educação continuava a ser a desigualdade entre as famílias que os pais tinham sido instruídos e os que não tinham.
Outro fracasso é o facto de não existir pluralismo político e liberdade intelectual. A repressão política, foi no entanto, menor que nos outros países comunistas. A força policial cubana para a defesa do estado, semelhante ao KGB soviético, no entanto era complementada pelos grupos de bairros chamados Comités para a Defesa da Revolução.

As acções americanas tornaram-se aliadas do regime cubano, o embargo a Cuba, que isolou a ilha durante muito tempo, contribuiu para uma sociedade fechada em que as pessoas não foram influenciadas pelos turistas americanas que tanto influenciaram outras sociedades, reforçando assim o patriotismo e a continuação do comunismo no país.
Revolucionários cubanos

Fidel Castro, Raúl Castro e Che Guevara